Estamos vivenciando a maior revolução no transporte desde a invenção do automóvel

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O Google já consta com uma frota de veículos autônomos logando mais que 15.000 km por semana em vias públicas

Em 1886 o alemão Karl Benz inventou o primeiro automóvel movido a gasolina. Em 1908, a Ford lançou oModel T, o primeiro carro economicamente acessível.  Sem dúvida, o avanço no transporte revolucionou a sociedade, o comércio, e facilitou o crescimento e desenvolvimento das cidades. Mas, hoje, um século mais tarde, estamos prestes a vivenciar a maior transformação no transporte desde a chegada do automóvel.

Viveremos em uma realidade onde o veículo movido a gasolina será uma coisa do passado. A figura do motorista – seja de um coletivo, de um táxi, ou até mesmo daquele que dirige seu carro particular – não será nem reconhecida pela nova geração. As montadoras, inclusive a própria Ford, que protagonizou anterior revolução no transporte, tomarão o mesmo caminho dos fabricantes de carruagens.

Essa mudança é o resultado da interseção de três poderosas vertentes: A viabilidade técnica do veículo autônomo; a produção em escala de baterias com alta capacidade para carros elétricos; a massificação de sistemas e plataformas para compartilhamento e arrendamento de transporte.

O veículo autônomo chegou

O carro autônomo já é uma realidade, falta apenas se tornar disponível ao público, algo que empresas como Google, Apple e Tesla, já prometem até 2020. Para exemplificar, o Google possui uma frota de carros autônomos, que já rodaram mais de 1,6 milhões de quilômetros em vias públicas e já transportam diariamente mais de 100 colaboradores da empresa – de suas casas ao trabalho.

Os benefícios da automação

A primeira grande vantagem do transporte autônomo será a segurança no trânsito. Utilizando sistemas avançados de lasers, sensores, e câmeras, o veículo autônomo enxerga muito além da capacidade humana. Isso sem mencionar que o condutor, cada vez mais interrompido pelo envio de mensagens no celular, não consegue (e nem quer) dedicar 100% do seu tempo e atenção para locomover um veículo.

A melhora da segurança no trânsito refletirá em uma grande queda no número de mortes em acidentes de carros. Atualmente, 1,2 milhões de pessoas no mundo morrem em acidentes de trânsito todo ano. De acordo com um levantamento do Google, estima-se que 94% dessas mortes sejam causadas por erro humano.

A segunda grande vantagem será a diminuição do congestionamento dos veículos nas cidades, que atualmente, consome tanto do nosso tempo produtivo. Veículos autônomos conseguem dirigir de forma mais precisa – necessitando menos espaço entre eles e assim, triplicando a capacidade das nossas estradas. Contando com esse mecanismo, passaremos menos tempo dirigindo e utilizaremos o tempo no carro, para outros fins – seja trabalhando no nosso notebook, lendo um livro, ou dando uma cochilada.

A morte das montadoras

O fim das montadoras virá logo depois. Justifico minha afirmação: a dificuldade de construir um veículo autônomo não vem da qualidade do hardware, mas sim da complexidade do software. Desenvolver software com logica e algoritmos avançados é algo que empresas como Google e Apple sabem fazer infinitamente melhor do que qualquer empresa fundada no início do século vinte.

O grande desafio do lado de software, não é só de captar volumes absurdos de dados em tempo real (algo feito pelos sensores, lasers, e câmeras), mas de processar esses dados quase que instantaneamente, tomando milhares de micro-decisões a cada segundo – um conhecimento de Big Data e de várias outras técnicas que as montadoras não dominam nem perto dessas gigantes de tecnologia.

Para se ter uma ideia dessa corrida tecnológica, somente a Apple, que deve estar 2 ou 3 anos atrás da Google em pesquisa na área, já tem 600 colaboradores alocados em seu projeto “secreto”, codinome “Titan”, e tem planos de triplicar esses números. São investimentos que a Apple, empresa com mais de 200 bilhões de dólares em caixa (valor suficiente para comprar a empresa de Henry Ford 4 vezes), consegue realizar. Já as grandes montadoras, infelizmente, nunca conseguirão se igualar.

Do sol ao tanque: Carros que não precisam de gasolina

O carro elétrico, para alguns países, já é uma realidade a vários anos. A empresa Tesla Motors, do empreendedor visionário Elon Musk, já colocou, por exemplo, mais de 75 mil veículos nas estradas. Seu principal veículo, o Model S, pode rodar mais de 400km, sem precisar recarregar a bateria – energia suficiente para ir do Rio de Janeiro a São Paulo, sem parar. O ritmo de inovação da empresa, e de concorrentes, só acelera à medida que sua escala cresce. Até o lançamento de um veículo autônomo, a capacidade dos veículos elétricos já deve superar os 600km.

Uma grande vantagem desse tipo de tecnologia é a diminuição da poluição atmosférica nas cidades.  A Tesla, que não se restringe apenas ao desenvolvimento de carros, recentemente, anunciou a Powerwall, uma bateria residencial que permite a geração de energia através de painéis solares, captada da própria casa do condutor do veículo, possibilitando o armazenamento de energia na bateria.

Olhando o mesmo horizonte da comercialização do veículo autônomo, acredito que a ligação de painéis solares residenciais com capacidade de armazenamento de energia, e veículos elétricos, viabilizaram carros que não só não precisam de motoristas mas também não precisam de gasolina.

Transporte compartilhado e sob-demanda

A medida que carros não dependem mais de motoristas ou de gasolina para se locomoverem, o custo desse tipo de produto, rapidamente, se tornará uma pequena fração do que é hoje. Com isso, o principal investimento em ter um veículo será o custo inicial para obter esses sistemas de transporte do futuro. O barateamento do custo variável de transporte (o preço de uma corrida de táxi, por exemplo), em comparação ao custo fixo do automóvel, tornarão ainda mais atrativa, financeiramente, a opção de compartilhar um veículo entre vários passageiros, seja via transporte coletivo, ou até mesmo transporte individual (como os táxis e Ubers proporcionam hoje).

A tendência é essa: as pessoas passarão a pagar somente pelo período e distância percorridos. Com essa mudança, vejo o número de veículos particulares caindo drasticamente e o uso de empresas como a Uber, que hoje já tem escala global como uma plataforma de transporte, crescendo, e nesse processo criando algumas das empresas mais valiosas do planeta.

Como qualquer grande movimento sísmico mundial, a revolução no transporte que estamos prestes a testemunhar terá ganhadores e perdedores. Os perdedores tentarão retardar seu acontecimento – via artimanhas políticas e burocráticas – mas não terão sucesso a médio prazo. Os ganhadores serão as bilhões de pessoas que terão acesso a um transporte mais eficiente, limpo e barato.

Fonte: Veja.com