Ministério da Saúde assume estudos clínicos da fosfoetanolamina

17741798Para sanar as dúvidas sobre a fosfoetanolamina sintética, o Ministério da Saúde decidiu tomar a frente dos estudos clínicos necessários para atestar a eficácia e a segurança da substância. Na última sexta-feira, 30 de outubro, o órgão publicou portaria no Diário Oficial da União (DOU) para compor a equipe que deve realizar os procedimentos.

“Será elaborado um plano de trabalho que prevê desde a caracterização da molécula, passando pelo desenvolvimento da formulação, produção de lotes de medicamentos experimentais seguindo as Boas Práticas de Fabricação (BPF) da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e realização de estudos pré-clínicos, ensaios clínicos e estudos de farmacovigilância”, detalhou, em nota, o ministério.

Independentemente da mobilização federal, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) já realizam estudos iniciais sobre a molécula da fosfoetanolamina nos laboratórios do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), da UFC. A substância chegou até o núcleo pelas mãos do médico Renato Meneguelo, que integra a equipe detentora da patente da fosfoetanolamina, e, apesar de serem iniciais, os estudos em células tumorais in vitro “mostraram que a molécula realmente tem efeito”, afirmou Odorico de Moraes, coordenador do NPDM.

José Aurillo Rocha, também médico oncologista, pontua que as pesquisas feitas no NPDM mostraram “diversas propriedades anti-inflamatórias e apoptóticas (morte celular)”, mas que ainda faltam estudos que comparem a substância com placebo (preparação neutra) ou com o tratamento convencional.

“Precisamos separar o que é substância experimental dos medicamentos que já passaram por pesquisas que comprovam seus resultados e têm registro”, advertiu Aurillo. Entre substâncias que não têm atividade terapêutica comprovada no tratamento do câncer, o médico citou a planta babosa e o cogumelo do sol.

“Avanço”

O médico Renato Meneguelo considera o posicionamento federal um avanço, visto que “deve acabar com as dúvidas se o composto funciona ou não”. O doutor em oncologia Odorico de Moraes também enxerga como positiva a atitude do ministério. “É uma resposta que tem de ser dada para a sociedade e para o poder judiciário, que está sendo irresponsável quando obriga que um órgão público (a Universidade de São Paulo) fabrique um medicamento que não tem condições de fabricar”.

Além do Ministério da Saúde, devem colaborar com os estudos clínicos sobre a fosfoetanolamina o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Anvisa. A previsão é de que em até 60 dias o grupo apresente o plano de trabalho das fases de desenvolvimento do projeto. Já para o resultado dos testes em animais, serão necessários pelo menos seis meses, presume o médico Odorico de Moraes.

Histórico

O professor Gilberto Chierice, que coordenou os estudos sobre a fosfoetanolamina sintética no Instituto de Química de São Carlos (IQSC), pertencente à USP, afirmou, em audiência no Senado Federal, que a droga começou a ser estudada no Hospital Amaral de Carvalho, em Jaú, interior de São Paulo. Ele pontuou, entretanto, que o composto foi testado em 11 pessoas para cada uma das seguintes áreas do corpo humano: urológica, gastroenterológica, ginecológica, mamária e do pescoço. Se não dispõe das pesquisas hoje, segundo o pesquisador, é porque o hospital “abandonou” o processo. (Luana Severo – luanasevero@opovo.com.br)